sábado, 30 de janeiro de 2016

Sobre a atividade de hoje

Uma Galinha
Clarice Lispector

Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se pode­ria contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, pare­cia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.

Texto extraído do livro “
Laços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”.


Clarice Lispectortudo sobre a autora e sua obra em "Biografias".

Não às demissões na General Motors. É preciso estabilidade no emprego

29/01/2016

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Sobre a GM

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/01/1735456-gm-demite-517-que-estavam-com-contrato-suspenso-afirma-sindicato.shtml?cmpid=compfb

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

CONVITE

CONVITE

O Sindicato dos Auditores Fiscais do Trabalho do Estado da Bahia – SAFITEBA  e a Delegacia Sindical do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho – SINAIT no Estado da Bahia convidam, em virtude da Semana Nacional de Combate ao Trabalho Análogo ao de Escravo, para a JORNADA DE DIREITO DO TRABALHO: uma visão multidisciplinar, que será realizada no dia 27 de janeiro de 2016 (quarta-feira),  às 09H00, no Auditório da Faculdade de Ciências Contábeis da Universidade Federal da Bahia - UFBA, localizado na Avenida Reitor Miguel Calmon, s/n – Vale do Canela, nesta CapitaL e no dia 28 de janeiro (quinta-feira), às 09H00 Ato Público do Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, com exposição fotográfica e relatos de experiências das fiscalizações dos Auditores-Fiscais do Trabalho na Superintendência regional do Trabalho e Emprego, localizada na Av. Sete de Setembro, 698, Mercês.

    O evento contará com a seguinte programação:

09:00 – Abertura

09:30 – Trabalho Escravo Contemporâneo – Palestrante Carla Gabrieli Galvão de Souza – Auditora Fiscal do Trabalho, Mestre em , Bacharel em Direito (UFBA).

10:00 – Promoção dos Direitos das Crianças e Adolescentes: Enfrentamento ao Trabalho Infantil – Palestrante Maria Teresa Calabrich – Auditora Fiscal do Trabalho, membro do Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente na Bahia – FETIPA/Ba

10:30 – Terceirização e Acidentes de Trabalho na Construção Civil – Palestrante Vitor Araújo Filgueiras – Auditor-Fiscal do Trabalho. Doutor em Ciências Sociais (Universidade Federal da Bahia – UFBA). Pós Doutorando em Economia (Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.

11:00 – Norma Regulamentadora n. 12: Proteção do trabalho em máquinas e equipamentos. Palestrante Anastácio Pinto Gonçalves Filho – Auditor-Fiscal do Trabalho. Doutor em Engenharia Industrial pela UFBA (2011). Mestre em Engenharia Ambiental Urbana pela UFBA (2003). Professor Permanente do Mestrado Profissional em Engenharia Industrial.


11:30 – Debates e Encerramento.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

OIT e Trabalho Decente

http://www.oitbrasil.org.br/content/o-que-e-trabalho-decente


O Trabalho Decente é o ponto de convergência dos quatro objetivos estratégicos da OIT: o respeito aos direitos no trabalho (em especial aqueles definidos como fundamentais pela Declaração Relativa aos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho e seu seguimento adotada em 1998: (i) liberdade sindical  e reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; (ii)eliminação de todas as formas de trabalho forçado; (iii) abolição efetiva do trabalho infantil; (iv) eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação), a promoção do emprego produtivo e de qualidade, a extensão da proteção social e o fortalecimento do diálogo social.

Leitura


"Direito do Trabalho e Mercado de Trabalho" (Néviton de Oliveira Batista Guedes)
O Direito achado na rua. Volume 2. Pag. 164

http://odireitoachadonarua.blogspot.com.br/p/publicacoes.html

A Constituição de 1988


domingo, 17 de janeiro de 2016

Tempos Modernos



“A indústria moderna transformou a pequena oficina do mestre patriarcal na grande fábrica do capitalismo industrial. Massas de trabalhadores, concentrados na fábrica, são organizados militarmente. Eles são colocados como soldados rasos sob a supervisão de uma hierarquia inteira de suboficiais e oficiais. Não são apenas serviçais da classe burguesas, do Estado burguês; são oprimidos todos os dias e horas pela máquina, pelo supervisor e, sobretudo, pelos próprios donos das fábricas. Tal despotismo é tanto mais mesquinho, odioso, exasperante, quanto mais abertamente proclama ter no lucro o seu objetivo exclusivo”.


Karl Marx e Friedrich Engels, “O manifesto comunista”.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

DIR 164 - CRONOGRAMA DO CURSO

LEGISLACAO SOCIAL E DIREITO DO TRABALHO (DIR 164) - CRONOGRAMA DO CURSO (2015.2)
Profa. Isabela Fadul de Oliveira (Sala 14 –  PSL, FFCH/UFBA)
http://legsocial.blogspot.com.br
Aula
Data
Conteúdo programático
01
12.01
Apresentação da disciplina. A questão social e a regulamentação das relações de trabalho. O trabalho na história do capitalismo. O modelo fordista de produção
02
12.01
Globalização econômica e reestruturação produtiva: Rupturas e permanências entre o fordismo e o toyotismo e os desafios da Terceirização
03
19.01
A regulamentação das relações de trabalho no Brasil. Origens da legislação trabalhista: a Era Vargas e o papel da CLT no processo de industrialização do país
04
19.01
O direito do trabalho como ramo especifico do Direito. Princípios do Direito do Trabalho
05
26.01
A Constituição Federal de 1988. O artigo 7º e a proteção social dos trabalhadores. O caso dos empregados domésticos
06
26.01
Relação de trabalho x relação de emprego. Elementos configuradores da relação empregatícia. Subordinação, pessoalidade, onerosidade e permanência
07
16.02
Trabalho eventual, cooperativas de trabalho, trabalho temporário
08
16.02
A relação de estágio e suas especificidades
09
23.02
PRIMEIRA AVALIAÇÃO
10
23.02
PRIMEIRA AVALIAÇÃO
11
01.03
Contrato individual de emprego. Direitos e obrigações das partes contratantes.  Bilateralidade x intermediação da força de trabalho
12
01.03
Os desafios jurídicos da Terceirização
13
08.03
Duração do contrato: contratos por tempo indeterminado e contratos de curta duração
14
08.03
Os contratos por tempo determinado e o caso da lei 9601/98
15
15.03
Alteração contratual: possibilidades
16
15.03
Regulamentação do tempo de trabalho e não trabalho: limites e tipos de jornada de trabalho
17
22.03
Sistema de prorrogação de jornada. Horas extras e bancos de horas
18
22.03
Descansos, intervalos, feriados
19
29.03
Férias individuais
20
29.03
Férias coletivas
21
05.04
SEGUNDA AVALIAÇÃO
22
05.04
SEGUNDA AVALIAÇÃO
23
12.04
A regulamentação da retribuição pelo trabalho. Salários, remuneração, adicionais
24
12.04
Décimo terceiro e da participação nos lucros e resultados. Semelhanças e diferenças
25
19.04
Adicionais indenizatórios por dano e risco de dano: limites legais.
26
19.04
Interrupção, suspensão e extinção do contrato individual de emprego. Estabilidades provisórias, FGTS e o instituto do aviso prévio
27
26.04
Causas da extinção do contrato e efeitos para os trabalhadores
28
26.04
Desemprego e o sistema de seguridade social brasileiro. Quadro atual das políticas públicas na área do trabalho
29
03.04
TERCEIRA AVALIAÇÃO
30
03.05
TERCEIRA AVALIAÇÃO
31
10.05
A crise atual do capitalismo e a nova Questão Social. Especificidades do caso brasileiro
32
10.05
Encerramento da disciplina

Programação complementar: Projeto Aula Aberta (Cinema da UFBA. PROEXT/UFBA)
Dia 30/01 – Exibição e debate do filme ”Roger & Eu” (Sala de arte da UFBA). 9h

Dia 02/04 – Exibição e debate do filme “Eles não usam black-tie (Sala de arte da UFBA). 9h