Condições econômicas e sociais
precárias treinam homens e mulheres (ou os fazem aprender pelo caminho mais
difícil) a perceber o mundo como um contêiner cheio de objetos descartáveis,
objetos para uma só utilização; hermeticamente fechadas, e que jamais deverão
ser abertas pelos usuários, nem consertadas quando quebram. Os mecânicos de
automóveis de hoje não são treinados para consertar motores quebrados ou
danificados, mas apenas para retirar e jogar fora as peças usadas ou
defeituosas e substituí-las por outras novas e seladas, diretamente da
prateleira. Eles não têm a menor idéia da estrutura interna das peças
sobressalentes (uma expressão que diz tudo), do modo misterioso como funcionam;
não consideram esse entendimento e a habilidade que o acompanha como sua
responsabilidade ou como parte de seu campo de competência. Como na oficina
mecânica, assim também na vida em geral: cada peça é sobressalente e
substituível, e assim deve ser. Por que gastar tempo com consertos que consomem
trabalho, se não e preciso mais que alguns momentos para jogar fora a peça
danificada e colocar outra em seu lugar? (Zygmunt Bauman, Modernidade Líquida, p.186)
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